Este post é uma contribuição de uma amiga nossa, Sofia Magalhães, e de autoria da própria. Muito envolvente, espero que gostem.!
Como insistia, resolvi abrir a porta e encarar a realidade, tinha cometido algo terrível na noite anterior, a imagem do sangue dele na minha mão ainda pairava em meus devaneios. As batidas de Otávio continuaram, abri a porta.
- Suzana...você está bem?
-Sim...-respondi para os olhos que me pertenciam, como a nódoa de um crime.-mas prefiro que você saia daqui, não quero ver ninguém agora, aliás...não volte mais, não me procure mais, se eu desapareci ontem é porque eu não quero ver ninguém e tenho meus motivos e não quero mais te ver.-menti.
- É isso que você quer? Que eu parta?
- Foi o que eu disse.- fingi frieza. Ele então saiu, não pegou nem seus pertences, não voltaria mais, levou para sempre aqueles olhos...
Passei a noite banhando-me em lágrimas, talvez aqueles fluidos pudessem retirar a mácula do homicídio. Passei um tempo na janela olhando aquele mundo, aquele mundo que me vomitava de suas entranhas, que me contaminava de culpa, o odiei por um breve instante, mas depois vi que eu era o erro de tudo, como um verme o mundo me lançava fora, era eu a culpada. Adormeci depois de muita culpa.
Eram por volta das seis horas quando os policiais bateram em minha porta, sem desespero, sabendo que quando abrisse a porta estaria o fazendo também para meu fim e destruição, que afinal ia ser concluída, já que começara naquela noite fria da sexta-feira com gritos de morte... Abri a porta, enfim, eles me levaram facilmente, não houve resistência minha. Afinal, do fim não se foge.
Hoje eu vejo por entre grades, os pássaros negros da noite voando como Ícaros da escuridão, encobrindo com suas sombrias asas o manto negro do céu e não consigo esconder-me dos olhos vermelhos e malignos que me olham durante dias e noites, aqueles olhos sombrios que me encantavam agora me perseguem grandes e vermelhos...
Sofia Magalhães Cunha
Armadura
Há 13 anos
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